segunda-feira, 24 de agosto de 2009


Na esquina Surreal, sento-me. Observo uma caixa pequena e retangular. Abro. Escapa um ar abafado. Dentro observo pessoas.
Muitas pessoas. A maioria com semblantes cálidos. Olhares fugidios. Cansadas talvez...
Um homem coça a cabeça. Uma criança chora.
Uma senhora quase escorrega, escorando-se em um jovem de mochila.
Uma mulher com semblante altivo discute com um pequeno aparelho. Não consigo entender qual o motivo da discussão.
Um aparelho pequeno. Tom de cinza. Ele abre e fecha.
Na frente da caixa retangular possui um homem, gordo e careca que parece guiá-los. Eles confiam no homem gordo e careca.
Escuto reclamações. Uns reclamam de a caixa estar lotada. Outros pelo atraso da caixa.
Começo a ler pensamentos.
Homem que guia:
"Como deixei pude não sair com a Laura ontem. Será que consigo hoje... Ela me pareceu brava. Mas acho que não, ela sempre me aceitou de volta. Não custa tentar... Na hora do almoço mandarei uma mensagem a ela.”

Mulher do aparelho:
"Canalha. Não pode puxar meu tapete assim! Vou mostrar a ele quem manda. Onde já se viu. Eu que dou duro o dia inteiro e a outra que é favorecida. Isso não pode acontecer! Não comigo!"

Enjôo de ler pensamentos. Sinto ânsia.

Outros tecem diálogos. Quem sabe seja valioso.

Aproximo na expectativa de entender o que dizem:

- Bom dia.

- Bom dia, tudo bem?

- Tudo. Hoje fez sol.

- Sim. Diferente de ontem que estava um pouco frio.

- Tem razão. O homem do jornal disse que amanhã terá um pouco mais de vento.

- Eu ouvi dizer mesmo.

...

- Está trabalhando naquele lugar ainda?

- Sim. Gosto de lá. E você, o que anda fazendo?

- Casei. Tive dois filhos.

- Verdade? Tenho três. Os seus dão trabalho?

- Não, ainda são pequenos.

- Então se prepare. Filho é despesa e dor de cabeça.

- Minha amiga me falou o mesmo.

- Bom, chegou o meu ponto. Aparece em casa.

- Eu vou sim. Mas vai você em casa também.

- Quando der eu vou sim. Até mais.

- Até.

Fecho a caixa num súbito. Sinto algo embolar dentro de mim e subir como fogos. Explode. Da minha boca saem estrelas coloridas.
Observo uma a uma cair ao chão.
O que fazer com elas?
Já sei! Quem sabe colocar dentro da caixa?!?
Coloco.
Todos observam.
Não conseguem entender de onde surgiram estrelas. Como não entendem, as ignoram.
Pisam nelas. Chutam-nas.
Retiro as estrelas coloco no bolso.
Quanto à caixa guardo num canto da esquina. Quem sabe um dia entenderei a espécie contida dentro daquela caixa.

6 comentários:

  1. Ótimo post, Vivian.
    Gostei do teu blog, do conteúdo expresso nele, as imagens postadas e do título dado a ele.

    Continue postando mais!

    Beijos.

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  2. meuuu Deuss....lá se foi o juizo da minha amiga rsrsrsrsrrsrsrs
    qual o nome desse supermercado?kkkk

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  3. O nome que você quiser, porque você interpretou como supermercado. Para mim não era um supermercado. Então escolha um nome para ele! SEU supermercado habitando no meu texto.

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  4. Mtoooo bom!!!Mostra as pessoas que caminham na escuridão da ignorancia bestializadas com seus cotidianos

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  5. Realmente bom!
    Para alguns seria uma visão de cima de nossas vidas, como em um grande jogo de The sims, mas com um livre arbítrio!

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  6. belo texto....
    é subjetivo, da margens pa varias interpretações...
    como um bom observador, faz transparecer a idéia de ser observado enkuanto nos observam e no entanto, não há observações relevantes a serem feitas, já q observamos a ignorancia e mediocridade da vida alheia.

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