quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Essa noite recebi uma ilustre visita na Esquina.
Um mago que chegou sobre uma balança. Uma balança constituída basicamente de cordas e madeira. Balançava sereno, como se nada de externo o afetasse.
Não chegou só.
Em seu colo repousava um gato. Um gato em tons de esmeralda.
Sobre seu pé apoiava-se um coelho. Um coelho com olhos grandes que nunca piscavam.
E em volta de seu pescoço, enrolava-se uma serpente.
Eram três conectados em um.
Balançavam serenos.
O mago sustentava uma expressão austera e de seu olho esquerdo via-se verter lágrimas. Lágrimas de sangue. Sangue denso e de um vermelho vivo.
Gotejava uma a uma sobre o cimento da calçada. E ao tocar o cimento, transformava-se em delicados cristais.
1 segundo.
2 segundos.
3 segundos.
PUF!
O cristal estourava.
Brotar.
Escorrer.
Pingar.
Transformar.
Estourar.
O balanço cessa.
O gato salta e caminha tranquilamente, em círculos. Dá três voltas em torno do mago e senta.
Brota.
Escorre.
Pinga.
Transforma.
Mas este não estoura.
O gato caminha até ele, coloca-o na boca. Leva para o mago. Este pega o cristal com ternura. Num impulso o arremessa contra o chão. O cristal parte-se em três.
O gato novamente caminha, agora em direção a uma parte. A primeira. Coloca-a na boca e a digere. Retorna para seu antigo posto, no colo do mago.
O coelho desliza pelos pés do mago em direção ao chão. Abocanha a segunda parte do cristal e caminha até o mago.
Este parte o cristalzinho em dois e penetra ambos nos respectivos olhos do coelho, que retorna aos pés do mago.
Agora a serpente. Desenrola-se do pescoço do mago e com suavidade segue em direção a terceira parte do cristal. Enrola-se sobre ele. Aos poucos se estica novamente.
Ao retornar para o pescoço do mago já não havia mais parte alguma do cristal.
Todos os olhares voltam-se para cima. Sobre nós descem dois astros.
Um grande e resplandecente de onde gotejam lavas.
O outro menor e opaco emitindo filetes de prata.
O mago levanta cada ser ali presente em direção aos astros.
Deixa gotejar na boca do gato um pingo da lava e um filete de prata.
Sobre os olhos do coelho, o mesmo. Lava e filete.
E sobre o corpo da serpente deixa escorrer lava e filete.
Voltam as suas respectivas posições.
Os astros partem.
O balanço suave retorna.
O mago emite um largo sorriso, seguido de uma estrondosa gargalhada.
E gargalhando desapareceu, devolvendo-me a solidão da Esquina.

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