sábado, 5 de setembro de 2009

É por - do- sol na Esquina. O sol dilui-se sobre o cimento. Calmo. Lento. Preguiçoso. Majestoso.
Como um menino espreguiça seus braços lânguidos. E suas línguas de fogo esvaem-se.
Sobre ele noto um pequeno borrão que gradativamente aproxima-se.
Aproxima-se.
Aproxima-se.
É um balão. Imenso. Grandioso e magnífico como são os balões. Emana certa magia. E esse não era diferente. Negro e com estrelas douradas o circundando.
Desce tranquilamente pousando sobre a Esquina.
Paira uma atmosfera de mistério.
A noite cai sobre nós.
Escuto o ruído de uma porta. É a porta do balão se abrindo.
Abre totalmente.
Curiosa caminho até ele. Mas é impossível enxergar algo.Está tudo negro.
Adentro o balão. A porta se fecha com um estrondo.
Aos poucos surge uma luz. Fraca. E passo a passo observo nascer o sol. Uma grande claridade agora me preenche.
Não é o sol de todo dia. É mais forte. Impactante. Mágico.
Aspiro. E sinto um doce cheiro de baunilha penetrar por minhas narinas.
Aos poucos abro meus olhos até então semi cerrados. E percebo que estou sentada na orla de uma praia.
Sinto a areia sob meu corpo. Uma areia fina, delicada e cândida. Meus sapatos desapareceram. E meus pés deliciam-se em penetrar meus dedos na areia e emergir novamente.
Atrás de mim escuto o burbúrio das ondas. Viro-me e contemplo o mar. Pomposo e num tom de esmeralda. Levanto-me e caminho até ele. Deixo as ondas baterem em meu tornozelo. Batem e voltam. Sempre. Num ritmo constante.
Me encontro embevecida com toda essa maestria quando escuto o som de um trotar.
Olho e vejo passar um unicórnio. Um lindo unicórnio, diga-se de passagem. Vermelho e com chifre de mármore. Ele para. E olha para mim curioso.
Ele abre sua boca e emite palavras por mim desconhecidas. Palavras que me cutucam. Que me preenche mesmo sem eu entender. Palavras que fazem meu corpo mortal tremer e temer.
Ao notar que não entendo sua linguagem, ele caminha até mim. Inclina sua cabeça e toca seu chifre em minha testa.
- Agora podemos conversar. Você irá me entender.
Sorrio.
- Quem é você? De onde vem?
- Sou uma humana. Viajante. Venho da Terra.
- Interessante. Poucos terráqueos nos visitam. Como conseguiu chegar até aqui?
- Através de um balão que pousou em minha Esquina Surreal.
- Você encontra-se em uma ilha.
Só então observo atrás da praia, se estender uma sutil vegetação. Algumas árvores e muitas flores forrando o chão. Descobri a origem do odor de baunilha.
- Posso conhecê-la?
- Sim. Precisamos descobrir o motivo de sua vinda. E só adentrando ao jardim iremos descobrir.
Retiro-me do mar. Ele se abaixa e diz:
- Pode subir.
- Não irei te machucar?
- Apesar de parecermos frágeis, somos como de rocha interiormente.
Subi.
Cavalgamos em direção as flores.
Passamos por árvores de variadas formas e tamanhos. Algumas por mim já conhecidas, outras nunca vistas.
Flores rasteiras, flores altas que subiam por entre as árvores e seus troncos. O jardim parecia ser infinito.
Estava contemplando um espetáculo de cores. E o cheiro. Forte e doce.
Caminhamos por muito tempo. Enquanto caminhávamos o unicórnio cantava. Não consegui entender seu canto. Mas era belo. Belíssimo. Ouso dizer sublime.
Estávamos assim, quando encontramos uma cerca de madeira. Simples. Tosca. Ela abriu sozinha, dando passagem a nós.
Era um caminho. Um caminho rodeado por árvores semelhantes aos salgueiros. No chão havia pedras. Brilhantes. Diamantes. Era um caminho plano.
O unicórnio parou de cantar.
Chegamos frente a uma mesa do mesmo material da cerca. Sobre ela haviam três taças de ouro. Do mesmo tamanho. De uma mesmíssima dimensão.
O unicórnio abaixou e eu desci.
Quando desci, ele dobrou suas patas, e ficou como de joelhos, sobre o chão. E eu entendi que precisava fazer o mesmo.
Estava diante de algo muito grandioso.
Ficamos assim. Silêncio.
Até que vi um pássaro descer. Um pássaro grande semelhante as fênix. Era dourado.
Desceu e pousou sobre a mesa.
Ao pousar dobrou suas patinhas ficando como nós, de joelhos.
Do alto desceu um clarão. Após o clarão um facho de fogo. Caiu primeiramente sobre a taça do meio. Depois sobre a taça da direita. E seguiu a da esquerda. Subiu novamente. Só então notei que o fogo havia descido do sol.
O pássaro levantou-se. Colocou seu bico pontudo dentro da taça do centro e bebeu do seu líquido interior. Fez o mesmo com a taça da direita e logo após com a da esquerda.
Ao pousar a última taça sobre a mesa o pássaro deitou-se sobre a mesa.
O clarão retornou. Dessa vez sobre o pássaro. Este último levantou-se. E começou ali uma transfiguração. Das patas nasceram pernas. Das asas braços.
O pássaro transformou-se numa criança. Pequena e alva. Encontrava-se nua. Mas para estar ali era preciso estar assim.
A criança caminhou até nós. Contemplou-nos e emitiu o sorriso. Um sorriso amplo e sincero. Extremamente sincero, como só as crianças conseguem emitir.
Passou suas mãozinhas sobre meu cabelo. Ao tocar-me meu corpo estremeceu e senti-me estagnada. Paralisada. Uma sensação de paz me invadiu. Não sentia nada. Nem mesmo as batidas de meu coração.
Ela retirou sua mão depressa. E a pousou sobre o unicórnio. Travaram um canto. O mesmo canto. Como se fosse ensaiado. Havia sons de violinos e flautas. Até hoje desconheço a origem.
Retirou a mão do unicórnio e virou-se. Caminhou novamente até a mesa. E subiu. Voou.
O unicórnio me tocou com o chifre. Entendi que precisávamos nos retirar. Subi.
E voltamos pelo caminho dos diamantes. Ao chegar à cerca paramos. O unicórnio abaixou e abocanhou um pequeno diamante.
Passamos pelo jardim. E chegamos novamente à praia.
Desci. Ele colocou o diamante na areia.
- Vire-se.
Obedeci. E com o canto dos olhos observei o unicórnio quebrar o diamante em sua boca. De dentro escorreu um líquido transparente e límpido. Ele soltou o líquido sobre meu cabelo. Escorreu e senti um gostoso arrepio me invadir.
- Sua viajem termina aqui Terráquea.
- O que te digo?
- Nada. Encontrar-nos-emos novamente.
E com o mesmo trotar que chegou se retirou.
A claridade diminuiu gradativamente. A noite voltou.
Retirei-me do balão. Sentei sobre a calçada da Esquina com aquela sensação inefável e inexprimível me dominando.
E observei o balão voar, despedindo-se da Esquina.

3 comentários:

  1. O balão nos transporta para um lugar onde almejamos ir, o "guia" nos conduz e nos mostra Seres que não vemos habitualmente mas estão ali, nos guiando, nos dando Luz!
    Lindíssimo texto, como já te disse: "Um dos, senão o MAIS lindo do blog"; Keep your mind all opened! Mantenha sua mente bem aberta! Lindo mesmo... lemonzitto.blogspot.com/

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  2. me passa o endereço dessa eskina!!! rsrsrsr

    poderia fzer tmbem uma viajen paradisiaca nela.
    belo texto, belo msmo me fez lembrar akela frase:
    " nós podemos fazer o q quisermos, mas não podemos querer o que queremos".
    e qndo de volta a realidade, vivemos para buscar o q queremos, fazendo o q podemos fazer uma "paradoxa contradição" numa eskina surreal :)

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  3. Vivian, muito mágico o seu texto. Parabéns por investir em sua inspiração. E obrigado por compartilhar.
    Peterson

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