tag:blogger.com,1999:blog-90904678780859207232024-03-04T22:55:30.739-08:00Esquina SurrealVivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-51485970874499374372012-04-11T18:51:00.000-07:002012-04-11T18:52:28.997-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSyNYj_cKkrZcxFHbGCCEADQeKLsw32o7oMEnbKV6NK8wpgBR9DDGjb8Cbyg0VAUriIcpDel6Y04PTUC2HGoMjiO4z1H9kRZps9_SVx-j1nir7ojHBgc-lZPqbGSO0tyL3E1FWf3-doyub/s1600/tulipa.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 286px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSyNYj_cKkrZcxFHbGCCEADQeKLsw32o7oMEnbKV6NK8wpgBR9DDGjb8Cbyg0VAUriIcpDel6Y04PTUC2HGoMjiO4z1H9kRZps9_SVx-j1nir7ojHBgc-lZPqbGSO0tyL3E1FWf3-doyub/s320/tulipa.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5730326080114264482" /></a><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal">Era uma charmosa tulipa. Uma tulipa com asas. Desceu silenciosamente na esquina e pousou sobre meu chapéu.</p> <p class="MsoNormal">- Posso descansar aqui?</p> <p class="MsoNormal">- Mas é claro. De onde vens?</p> <p class="MsoNormal">- Ora! Como és tola! Do meu passeio matinal!</p> <p class="MsoNormal">- E porque o cansaço?</p> <p class="MsoNormal">- Porque estou fugindo. Fugindo de uma garotinha que insiste em me perseguir.</p> <p class="MsoNormal">(...)</p> <p class="MsoNormal">- Olha, lá vem ela! Vou me esconder!</p> <p class="MsoNormal">- Mamãe, eu a vi. Ela está aqui...</p> <p class="MsoNormal">- Filha, não tenho tempo para brincadeiras! Já te disse: flores não andam em supermercados!</p> <p class="MsoNormal">- Mas eu vi mamãe! Juro que vi!</p> <p class="MsoNormal">Aproximam-se de mim.</p> <p class="MsoNormal">- Por favor, moça do chapéu: você viu uma tulipinha vermelha com bolsinha amarela?</p> <p class="MsoNormal">Estava pronta a responder quando entra correndo um gato com uma graciosa gravata borboleta e segurando uma caixa preta.</p> <p class="MsoNormal">- Olá moça do chapéu. Posso sentar ao teu lado?</p> <p class="MsoNormal">- À vontade...</p> <p class="MsoNormal">O gato sentou, abriu a caixa preta e tirou dela um lindo saxofone dourado. </p> <p class="MsoNormal">- Escutem essa valsa. Aprendi hoje.</p> <p class="MsoNormal">A mãe e a menina sentaram junto de nós e o gato começou a tocar uma deliciosa melodia em seu sax. O som nos envolveu.</p> <p class="MsoNormal">Estávamos ali, embevecidos na valsa, quando adentra uma bailarina.</p> <p class="MsoNormal">Vem rodopiando, fazendo piruetas e dando risadinhas graciosas. </p> <p class="MsoNormal">Saltitava e sorria.</p> <p class="MsoNormal">Junto dela um acordeonista de cartola. Começou a acompanhar o gato em sua valsinha.</p> <p class="MsoNormal">E a bailarina dançava.</p> <p class="MsoNormal">- Mamãe quando crescer posso ser igual a ela?</p> <p class="MsoNormal">- Mas é claro querida! Só precisamos mudar algumas coisas...</p> <p class="MsoNormal">- Que coisas mamãe?</p> <p class="MsoNormal">- Seu cabelo. Seus braços. Suas pernas. Seus pés. Ou seja, você inteira!</p> <p class="MsoNormal">A menina rompe num choro. A música muda. Começa a ficar agitada. Violenta. O sax grita e o acordeom acompanha o choro da criança.</p> <p class="MsoNormal">A bailarina se aproxima da menina e diz:</p> <p class="MsoNormal">- Não chores. Talvez possamos dar um jeito nisso tudo.</p> <p class="MsoNormal">- Que jeito? Eu não quero mudar!</p> <p class="MsoNormal">- Não quer ser como eu?</p> <p class="MsoNormal">- Sim. </p> <p class="MsoNormal">Nisso a tulipa que permanecia escondida em meu chapéu, rompe a cena com um grito aterrorizado. A música cessa no mesmo instante.</p> <p class="MsoNormal">- Porque quer rodopiar? Porque quer saltar? Porque quer rir com graça? Menina tola! Menina tola!</p> <p class="MsoNormal">O gato que permanecia sentado levanta-se e diz:</p> <p class="MsoNormal">- Tulipas por aqui não são bem-vindas!</p> <p class="MsoNormal">O acordeonista aproxima-se e diz:</p> <p class="MsoNormal">-Aproxima-te tulipa!</p> <p class="MsoNormal">A tulipa voa até os ombros do acordeonista.</p> <p class="MsoNormal">- Consegues daqui ver o mar?</p> <p class="MsoNormal">- Não. Mas sinto o cheiro e a brisa.</p> <p class="MsoNormal">- Vamos pra lá?</p> <p class="MsoNormal">- Não posso. Preciso ajudar a menina. </p> <p class="MsoNormal">- Leva ela também.</p> <p class="MsoNormal">A tulipa vira para a menina e diz:</p> <p class="MsoNormal">- Quer conhecer o mar?</p> <p class="MsoNormal">- Não. Quero ser como a bailarina e bailarinas não habitam no mar.</p> <p class="MsoNormal">A mãe que permanecia calada até então, diz:</p> <p class="MsoNormal">- Eu quero ir ao mar. </p> <p class="MsoNormal">- O mar não aceita mulheres como tu. Apenas as puras entram nele.</p> <p class="MsoNormal">A bailarina ri estrondosamente e em meio ao riso debochado exclama:</p> <p class="MsoNormal">- Teu mar é podre! Podre! </p> <p class="MsoNormal">- Diz assim, pois lá já habitou. No entanto lá não podes retornar.</p> <p class="MsoNormal">A bailarina começa a chorar. O gato ira-se.</p> <p class="MsoNormal">- A fez chorar. Pagarás por isso! </p> <p class="MsoNormal">A menina levanta-se e diz:</p> <p class="MsoNormal">- Bela bailarina... Não chora. Se você chora eu fico triste.</p> <p class="MsoNormal">- Não posso. Para meu choro cessar só há uma coisa a fazer.</p> <p class="MsoNormal">- E o que é? Diz e farei!</p> <p class="MsoNormal">- Tirar todas as pétalas da tulipa.</p> <p class="MsoNormal">- Oh! Mas não posso. Ela é tão bela!</p> <p class="MsoNormal">- Eu sabia, eu sabia! - E aumenta o choro e os soluços.</p> <p class="MsoNormal">A menina caminha até a tulipa e diz:</p> <p class="MsoNormal">- Tulipinha... Não posso ver a bailarina chorando. Fico triste também! Você me deixa retirar todas suas pétalas?</p> <p class="MsoNormal">A tulipa olha ao acordeonista que diz:</p> <p class="MsoNormal">- Se aceitar não poderá retornar ao mar.</p> <p class="MsoNormal">A tulipa voa lentamente até o chão. Deixa a bolsinha em minhas mãos.</p> <p class="MsoNormal">A menina começa então a tirar pétala por pétala. Cada pétala retirada é uma gota de sangue que vai ao chão.</p> <p class="MsoNormal">Gradativamente o choro da bailarina começa a cessar.</p> <p class="MsoNormal">E quando a última pétala cai ao chão, uma poça de sangue se formou. A bailarina dá seu último soluço e abre um sorriso.</p> <p class="MsoNormal">- Vamos? Agora poderá ser como eu!</p> <p class="MsoNormal">A menina então responde:</p> <p class="MsoNormal">- Não irei bailarina. Não sou como tu. Fiz isso para teu choro cessar. Ele cessou. Prefiro continuar como menina.</p> <p class="MsoNormal">- Como preferir! Encontrei melhores... Vamos gato, preciso de ti!</p> <p class="MsoNormal">O gato coloca seu saxofone na caixa.</p> <p class="MsoNormal">- Vem bailarina.</p> <p class="MsoNormal">A bailarina entra na caixa e lentamente se dobra até ficar do tamanho do polegar de uma criança.</p> <p class="MsoNormal">O gato fecha a caixa e retiram-se.</p> <p class="MsoNormal">- E agora? - diz a menina - A tulipa virou uma poça de sangue. Há como desfazer?</p> <p class="MsoNormal">- Infelizmente não. Ela aceitou fazer isso por ti. Mas você ainda pode vir comigo conhecer o mar.</p> <p class="MsoNormal">- Aceito. Adeus mamãe.</p> <p class="MsoNormal">A mulher nada responde. Apenas observa a filha desaparecer com o acordeonista.</p> <p class="MsoNormal">Quando desaparecem, ela caminha até a poça de sangue, descalça os pés e os mergulha no líquido escarlate. </p> <p class="MsoNormal">Os pés tornam-se raízes. O corpo um caule. E as pétalas ressurgem. As asas rasgam a costa. </p> <p class="MsoNormal">- Pode devolver minha bolsa?</p>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-56053247950173006292010-11-15T15:51:00.000-08:002010-11-15T15:52:52.201-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkxBlMBgUk4NTSrw0EAon6CovXQoQcchdZyRXMGoM16kHluqcXOD5NuuGqiuetFyXhF6tYsjCHfNrPXE3XvZtXf27i86Rlf5rQ4RiNAkyY2ZV6cwG-En4zN5dPiYeVlpUl52Xtbwz3OHTD/s1600/arvore.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5539928400398877778" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 254px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkxBlMBgUk4NTSrw0EAon6CovXQoQcchdZyRXMGoM16kHluqcXOD5NuuGqiuetFyXhF6tYsjCHfNrPXE3XvZtXf27i86Rlf5rQ4RiNAkyY2ZV6cwG-En4zN5dPiYeVlpUl52Xtbwz3OHTD/s320/arvore.jpg" border="0" /></a><br /><div>Senti um pingo tocar meus cabelos. Tocou explodiu e escorreu. Quando escorreu, contemplei o líquido denso bater contra o solo.<br />Era uma estrela que gotejava pingos no breu.<br />Comecei a sentir uma ânsia para ajuntá-los. No começo consegui. Depois me frustrei. Eram muitos.<br />Caminhei e parei sob ela. Levantei as mãos em forma de concha e deixei um pingo escorrer na linha da vida. Percorreu do nascimento até o término e foi para o pulso, acompanhando uma veia saliente.<br />Era belo e opressor.<br />Quando a estrela terminou de pingar, as demais começaram a se alinhar. Formaram uma delicada escada e me convidaram e subir.<br />Conforme galgava os degraus, estes iam esvaindo de forma que quando ao topo cheguei, não havia mais traços de escada.<br />As estrelas desapareceram. Não havia luz nem som algum.<br />Caminhei pelo escuro.<br />Devagar. E confesso que temendo. Temendo o inesperado e imprevisível.<br />Tropecei.<br />Havia algo ali.<br />Um corpo talvez.<br />Com o tato notei ser um corpo pequeno. Não havia braços nele. Mas encontrei asas. Asinhas.<br />Seus pés eram estranhos. Quando toquei, fizeram me lembrar de pés de bode.<br />Respirava. Suave. Calmo. Morno.<br />- Olá. Consegue me sentir?<br />- Pouco.<br />Sua voz era rouca. Feminina.<br />- Porque tanta escuridão?<br />- Porque quer claridade?<br />- Gostaria de saber onde estou. Ver com quem falo.<br />- Talvez não seja a melhor opção. Pode sentir medo daqui. Por onde veio?<br />- Pelas estrelas.<br />- Se der cinco passos para a esquerda encontrará uma garrafa. E cinco passos para a direita uma pena. Escolha.<br />Levantei e caminhei para a esquerda. Pude sentir o vidro gélido tocando minha pele.<br />- O que faço com ela?<br />- O que faria com uma garrafa?<br />Tateei a garrafa e pude sentir uma rolha tampando-a. Retirei. No mesmo instante um odor ácido invadiu minhas narinas. Percorreu minhas entranhas.<br />Meus olhos lacrimejaram.<br />- Não as perca.<br />- Quem?<br />- As lágrimas. Coloque-as na garrafa.<br />Deixei pingarem ali dentro. Não lembro quantas foram exatamente.<br />- Agora despeje em minha asa.<br />Assim fiz.<br />Quando concluí, um clarão caiu sobre nós. O corpo levantou. E pude contemplá-lo finalmente. Possuía um rosto delicado, como de menina. Longas madeixas ruivas e um tom de pele também rubro.<br />E contrastando com a delicadeza, pequenos pézinhos de bode.<br />- O que você é?<br />- Sou Lifo, o guardião. Olhe ao seu redor.<br />Olhei e pude notar que estava numa clareira. Muitas árvores nos rodeavam. Árvores de variadas espécies.<br />Lifo caminhou até o centro da clareira. Agitou suas asas. Uma suave brisa tocou minha pele e começou a agitar levemente as folhas de cada árvore.<br />Quando todas as folhas estavam num balanço sutil, Lifo pisou com força três vezes na terra.<br />Iniciou uma música suave. Cada árvore fez uma reverência a Lifo. Quando a última árvore terminou sua reverência, Lifo travou uma bela dança. Saltitava e dava pequenos vôos embalados por aquele doce som.<br />De repente a música parou. A brisa ficou gélida. As folhas interromperam seu balanço.<br />Percebi um leve tremor no solo.<br />Lifo estagnou-se.<br />E observei aproximar de nós a figura de uma velha segurando um cajado. Ela possuía um tampão em seu olho esquerdo. Trajava-se com modéstia e caminhava com dificuldade.<br />A velha caminhou até a primeira árvore e bateu seu cajado no caule da mesma. No mesmo instante as folhas começaram a cair sob o solo e tornaram-se secas. Da mesma forma procedeu a velha com as demais árvores.<br />Até que o solo ficou coberto de folhas secas e todas as árvores com seus galhos expostos.<br />A velha caminhou até Lifo e disse:<br />- Observou o que fiz?<br />- Sim.<br />- São frágeis. Inúteis. Com o pouco que fiz já consegui abatê-las.<br />Nesse instante, caiu de Lifo uma pequena madeixa ruiva. Ele me disse:<br />- Pegue essa madeixa e distribua seus fios em cada árvore.<br />Obedeci.<br />Nisso pude notar um moço alto aproximando-se de nós. Tinha longos cabelos negros e olhos azuis. A pele branca e carregava consigo uma lâmpada a óleo.<br />Caminhou até nós.<br />Quando se aproximou de Lifo, fizeram uma reverência mútua e saldaram-se.<br />- Estou contigo.<br />- Estou contigo.<br />O moço caminhou em direção a cada árvore. Em cada uma delas deixava pingar um pouco do óleo da lâmpada na raiz. Três gotas. Após caírem as gotas deixava por sete segundos a chama próxima aos fios da madeixa de Lifo. Ao terminarem os sete segundos, uma chama suave iniciava no fio de cabelo que ali estava.<br />Quando o moço concluiu seu trabalho, voltou ao lado de Lifo.<br />O moço prostrou-se no chão, colocou a lâmpada já apagada em sua frente e disse:<br />- Se esta se acender as folhas voltarão. Se não acontecer, as árvores morrerão. - Disse e cerrou seus olhos. Balbuciava palavras por mim incompreensíveis.<br />Lifo estava concentrando, com os olhos também fechados. A velha começou a andar em círculo, rodeando as árvores. Batia violentamente com seu cajado em seus galhos, tentando quebrá-los. E gritava:<br />- INÚTEIS! FRACAS! COVARDES!<br />Algumas árvores deixaram cair pedaços do casco ao serem agredidas. Algumas derrubaram pequenos pedacinhos de seus galhos.<br />Observei que de uma árvore começou a escorrer um líquido denso e rubro. Era sangue. Escorreu pelos seus cascos enquanto a velha dava uma estrondosa gargalhada.<br />Quando o sangue tocou a terra, o moço começou a tremer e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Mas ele sorria. Levantou e caminhou em direção a cada árvore batendo palmas. Nisso Lifo começou a entoar um canto. Um canto lindo, puro que começou a me preencher e fazer meu coração saltar. Meu corpo tremia e meus pés começaram a saltar. Comecei a dançar.<br />O moço batia palmas. Lifo cantava. E eu dançava.<br />Nisso caminhei até a velha e tirei o tampão de seu olho. Nada havia ali, apenas um buraco negro.<br />Caminhei até a lâmpada dei três palmas em cima dela e a chama voltou a se acender. Quando se acendeu, coloquei apenas uma gota dentro daquele buraco.<br />No mesmo instante a velha transformou-se num lobo negro. Correu desesperado uivando e gemendo afastando-se de nós.<br />Coloquei a lâmpada no meio da clareira.<br />A brisa recomeçou.<br />Os galhos retornaram ao seu balanço suave e as folhas, tranquilamente, subiram para seu lugar de origem.<br />A música recomeçou. As árvores balançavam, e nós cantávamos, dançávamos e batíamos palmas.<br />Lifo segurou minha mão direita e o moço minha mão esquerda.<br />Caminhamos por um tempo assim, de mãos dadas, conectados num mesmo sentimento, como se fossemos um.<br />Levaram-me até a escada de estrelas que se formavam novamente. Lifo disse:<br />- Seu tempo acabou. Mas voltarás.<br />O moço:<br />- O lobo retornará. Não conseguiremos salvar todas as árvores, infelizmente. Não é todas que possuem raiz forte o suficiente.<br />Eu disse:<br />- Ele nunca vai morrer?<br />- Não pode. Vimos apenas um de uma alcatéia.<br />- E o que podemos fazer?<br />- Protegemos e guardamos. Um dia ele retornará para seu lugar de origem<br />- Agora tem que ir. A escada estará sempre ligada a você.<br />- Estou contigo. - disse o moço.<br />- Estou contigo. - disse Lifo.<br />- Estou contigo. - disse eu.<br />E desci os degraus de estrelas que iam se esvaindo sob meus pés.</div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-78422933408861377032009-10-24T12:40:00.000-07:002009-10-24T12:47:29.436-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_DJnJ2V0Av8RDhvRth60qzjGwzRm8Q3of7iKKqT1Ijoa8fnWP97_Gu29zrxC6RaHP112fvqV5I5QNJpsc5LntDJE0Qvj1Gs2GXpmc6FSwt-MAfGePgMInVdZvEcwc6rDAlWRyIiWtZRHv/s1600-h/TheFool.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396254851864120018" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 186px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_DJnJ2V0Av8RDhvRth60qzjGwzRm8Q3of7iKKqT1Ijoa8fnWP97_Gu29zrxC6RaHP112fvqV5I5QNJpsc5LntDJE0Qvj1Gs2GXpmc6FSwt-MAfGePgMInVdZvEcwc6rDAlWRyIiWtZRHv/s320/TheFool.jpg" border="0" /></a><br /><div>Uma aura azul predomina na Esquina.<br />Um aroma de magia - você deve conhecer - começou a chegar a meus pulmões.<br />Através da aura percebo surgir uma figura, caminhando em minha direção. Aos poucos distingo ser um bobo da corte. Alto. Com uma linda roupa dourada. A face toda branca com detalhes dourados e aquele chapéu com bolas que todo bobo carrega consigo.<br />Trazia nas mãos uma linda bola daquelas grandes e coloridas. Segurava-a com muito cuidado. Às vezes a acariciava. Tinha muita estima pela bola.<br />Sentou-se ao chão, cruzou as pernas e ficou a contemplar a bola. Sorria. Contemplava.<br />A bola passou a espagir-se. Espargiu, espargiu até que expluiu!<br />BUM!<br />Retalhos coloridos espalharam-se pelo ar e ficaram a flutuar.<br />A bola revelou ter em seu interior um lampião. Apagado.<br />Ao contemplar aquele lampião o bobo levantou!<br />Lançou um olhar aflito.<br />Passou a correr em torno do lampião.<br />Correu muito.<br />Parou. Descansou.<br />Voltou a correr.<br />Estava nessa corrida quando entre os retalhos coloridos que ainda flutuavam, surgiu um homem. Seus olhos encontravam-se vendados. Vestia uma longa bata preta e carregava na mão esquerda um singelo baú.<br />- Alguém pode me ajudar? - disse o homem.<br />- Me diz nobre senhor do que necessitas.<br />- Esse baú precisa se abrir. E para isso preciso encontrar o bobo da corte.<br />- Infelizmente não posso te ajudar. Não sei da existência de nenhum bobo aqui nas redondezas. Mas veja bem, eu carregava uma bola que desistiu de existir e mostrou carregar em seu interior um lampião apagado.<br />- Um lampião? O que seria um lampião?<br />- Não sei te explicar. Um lampião é um lampião. Quem sabe se o tocar poderá imaginar sua forma.<br />O bobo segurou as mãos do homem. Encaminhou-as em direção ao lampião. Percorreram, exploraram, sentiram.<br />- Que forma engraçada possui seu lampião.<br />- Não é meu. É da bola.<br />Ambos encontravam-se sentados carregando seus respectivos objetos.<br />- O que é um bobo da corte? - perguntou o bobo.<br />- Me disseram que eu saberia quando o encontrasse. Que todo bobo tem magia, fascínio e carrega consigo a verdade.<br />- Vamos continuar sentados. Quem sabe passa um bobo por aqui.<br />- Já estou cansado de minha viajem. Irei repousar. Mas fique atento por mim. Se algum bobo aparecer me chame.<br />O homem se deitou.<br />O bobo o observava ressonar.<br />Colocou seu ouvido sobre o coração do homem.<br />Assustou-se.<br />Repetiu. Dessa vez manteve-se com o ouvido, como tentando decifrar o som interno. Num repente levantou-se e levou a mão até o seu peito.<br />Nada.<br />Nenhum som.<br />Silêncio total.<br />Vazio.<br />Olhou para o lampião. Para o homem. Lampião. Homem.<br />Abaixou-se, abriu a tampa do lampião e emitiu um leve sopro.<br />O lampião acendeu. Uma chama viva. Resplandecente. E a aura levemente passou do azul para o escarlate, sendo possível contemplar sobre o chão alguns caixotes.<br />Caixotes de cores variadas. Vermelho, verde, marrom, roxo... Exatamente seis caixotes.<br />O bobo retirou uma bola de seu chapéu. A bola roxa. A levou até a caixa da respectiva cor. E assim fez com cada bola de seu chapéu, restando apenas uma.<br />Quando completou a tarefa o primeiro caixote se abriu. De dentro saiu um Rei. Vestindo um lindo manto e portando uma majestosa coroa.<br />Do segundo uma Rainha. Com o mesmo manto, no entanto com coroa diferente, um pouco menos majestosa.<br />Do terceiro um Bispo. Um Bispo velho e sereno.<br />Do quarto um cavalo. Forte e negro.<br />Do quinto ergueu-se uma torre de pedras cinzentas e pesadas.<br />Do sexto, finalmente, um peão. Carregando chapéu, laço e calçando - claro - botas.<br />- Ó Rei, vive para sempre!<br />O Rei deu um passo em sua direção.<br />- Carrego comigo um lampião e tenho como companhia um mortal com olhos vendados.<br />- Não me deve explicações Bobo. Deve apenas divertir-nos.<br />Nesse momento iniciou-se uma música (leitor nesse momento solicito ouvir a melodia sugerida e prosseguir a leitura: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=8PQsRH3GSdU">http://www.youtube.com/watch?v=8PQsRH3GSdU</a>).<br />A Rainha fixou o olhar no bobo. Caminhou até ele. Deixou cair seu manto. E juntos travaram uma dança. Uma dança quente. Onde era possível observar fagulhas de um olhar para o outro.<br />Mãos deslizavam.<br />Pernas subiam.<br />O ar se enrubesceu ainda mais.<br />Os retalhos coloridos desapareceram.<br />Até que a música foi interrompida por um estrondo.<br />Todos se voltaram e contemplaram a torre ruir sobre o Bispo.<br />Pedras rolaram para todos os lados e o corpo do Bispo tombou sobre o chão.<br />O peão abaixou a cabeça, segurou o chapéu contra o peito e voltou para sua caixa.<br />O cavalo relinchou e num impulso saltou sobre a rainha e o bobo. Saltou três vezes. No terceiro salto paralisou no ar. E assim permaneceu.<br />A rainha removeu o chapéu do bobo. Abriu sua cabeça. E naquele vazio e escuridão pôs o lampião. Voltou o chapéu.<br />Caminhou até o Rei. Este se prostrou a seus pés em ato de reverência.<br />Estralou os dedos.<br />O cavalo lentamente retornou ao chão, caminhando até seu caixote, seguido pelo Rei e pela Rainha.<br />Aos poucos a luz azul retornou.<br />O bobo caminhou em direção ao homem.<br />- Desperta-te.<br />O homem aturdido sentou-se.<br />O bobo então retirou a venda de seus olhos.<br />O homem contemplou o baú e o abriu. De dentro saltaram penas coloridas. Saltavam e retornavam. Ficaram nesse movimento constante e o homem observava admirado.<br />- Já não preciso da bola e carrego o lampião.<br />O homem o observou, sem entender.<br />- Partirei e deixarei contigo a última bola de meu chapéu.<br />Retirou-a e a depositou próxima ao homem.<br />Lentamente partiu.<br />Saltar. Retornar.<br />Assim continuavam as penas. Até que entediado fechou o baú.<br />Olhou para o vazio.<br />Levou a mão até o peito.<br />Nada.<br />Nenhum som.<br />Oco.<br />Olhou para a bola depositada ao seu lado que começou a encher-se e a colorir-se.</div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-19509419910952079692009-09-13T12:56:00.000-07:002009-09-13T13:03:05.791-07:00Recordo-me de tudo iniciar-se numa tarde ociosa na Esquina.<br />Meus olhos abriam e fechavam pesados. O corpo langoroso, não emitia movimento algum. O único movimento existente era sentido em meu interior, onde sangue e coração exerciam seus respectivos trabalhos.<br />Viram a esquina duas figuras: uma cigana e um anão. A primeira, alta, morena, com longos cabelos da cor do ébano e grandes olhos azuis. Trajava um longo vestido vermelho e um xale verde. Não carregava jóia, mas um singelo pandeiro.<br />O anão com roupas de feitio simples, calçava uma bota de tecido e trazia consigo um bandolim.<br />Passaram por mim e pararam. Olharam entre si. O anão pegou seu bandolim e passou a executar uma graciosa canção, logo seguido pelo pandeiro. Retornaram sua caminhada, agora tocando. Despertada de meu ócio, levantei-me e meus pés como por encanto, passaram a dançar. A cigana virou e sorriu. Chegou-se a mim e juntas, caminhávamos e dançávamos.<br />Chegamos frente a um campo repleto de trigo. Meus olhos extasiaram-se com o dourado emanado pela plantação.<br />- Descalça teus pés! - ordenou o anão.<br />Obedeci.<br />Adentramos.<br />Meus pés revolviam a terra macia. E quando retomamos a caminhada os trigos começaram a balançar e emitir uma música suave. Conforme passávamos, inclinavam-se em gesto de reverência.<br />Quando passamos toda a plantação deparamos com duas cachoeiras. De uma jorrava água e de outra fogo.<br />Muitos animais as circundavam. Esquilos, raposas, castores, leões, tigres, camelos, elefantes, pássaros - e aqui leitor, adicione de sua imaginação quantos animais quiser. Eu observei estes.<br />Todos se prostraram em reverência.<br />Caminhamos até uma caverna entre as duas cachoeiras. Ali havia um vento forte e incessante e meus pés sentiam a textura de uma terra extremamente macia e quente, mas não queimava.<br />Deparamos com uma grande pedra. Nessa pedra havia uma fenda onde notei algo escorrendo.<br />- Prove! - disse o anão.<br />Aproximei-me e passei os dedos no líquido. Levei-o a boca. Era mel. Quando passou por minha garganta senti meu coração aumentar sua frequência. Meu corpo era preenchido pelo som de suas fortes batidas. Temi.<br />- Não temas. Seu corpo há de se acostumar.<br />Saímos da caverna. Os animais continuavam em seus postos.<br />- Nessa tarde iremos recebê-la entre nós.<br />Ele olhou para a cigana e continuou:<br />- Já sabes o que deves fazer.<br />Fui conduzida pela cigana a um estábulo. Ali estavam três cavalos: um branco, um negro e outro castanho. Todos vistosos e lustrosos.<br />- Escolheis um.<br />- Não o sei como fazer.<br />- Passarás a noite com eles. Quando amanhecer deverás ter escolhido um.<br />Retirou-se.<br />Sentei-me sobre o feno. Um pequeno lampião nos iluminava. O cavalo negro se aproximou e disse:<br />- Se me escolherdes não irá arrepender-te. Sou forte como um touro e valente como um leão.<br />Logo após chegou o branco.<br />- Não escutes o negro. Ele esquece que além de força e valentia faz-se necessário a inteligência. E isso só eu possuo. Se me escolherdes não irá arrepender-te.<br />O castanho não se aproximou. Apenas mantinha seus olhos fixos em mim.<br />Deitei-me sobre o feno e não percebi quando meus olhos se fecharam.<br />Acordei no meio da noite sentindo o ar gélido invadir o estábulo. Meus dentes tremiam. O cavalo castanho se aproximou.<br />- Peço licença. - deitou e encostou-se em mim.<br />Aos poucos seu corpo quente me aqueceu e voltei a dormir.<br />Quando senti os primeiros raios de sol invadir as tábuas do estábulo, abri meus olhos. Ao meu lado havia uma maçã.<br />- Espero que gostes de maçã - disse o cavalo.<br />Sorri e dei uma dentada na suculenta maçã.<br />A cigana entrou.<br />- Já escolhestes?<br />- Sim. O castanho será meu companheiro.<br />- Como quiserdes.<br />Saímos do estábulo. Todos nos esperavam.<br />- Entenderás sua missão no caminho. Estaremos esperando-os. Leve consigo essa pequena adaga e essa garrafa de vinho.<br />Agradeci e retirei-me caminhando ao lado do cavalo.<br />Ele me conduziu. Diante de nós surgiu um vasto campo e muitas montanhas ao fundo. O sol brilhava e o céu era límpido de um azul vivo.<br />Paramos frente a um lago. As águas começaram a agitar-se.<br />- Suba em mim. Aconteça o que for não solte de minha crina.<br />Quando sua pata encostou-se às águas do lago estas aumentaram seu movimento. Começaram a levantar ondas que nos encobriam. Minhas mãos suavam e eu sentia seu corpo tremer. O barulho era ensurdecedor e tudo parecia girar. O agito multiplicou-se. Ele continuava caminhando bravamente.<br />De súbito a água esquentou. Muito. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Mas continuava bravamente. Aos poucos a temperatura foi decaindo. Decaiu. Decaiu. Congelou.<br />Impossibilitado de continuar ele estagnou. Tentava forçar as patas, mas estas se encontravam imóveis.<br />Queria ajudá-lo e não sabia como. Fechei meus olhos. Respirei fundo. Lembrei-me do vinho. Abri a garrafa e derramei o líquido sobre o gelo. No mesmo instante o gelo derreteu e o lago ficou como antes. Tranquilo.<br />Ele levantou-se e de júbilo relinchou.<br />Saímos do lago e seguimos nossa caminhada.<br />Deparamo-nos com um bosque. Um bosque de espinhos. Grossas árvores cobertas por espinhos.<br />Aquilo machucava. Feria. Rasgava nossa pele. O sangue escorria, misturado com o suor do sofrimento.<br />- Não solte de minha crina.<br />- Não soltarei.<br />- Confia em mim?<br />- Com minha vida!<br />- Então feche os olhos.<br />Fechei.<br />Seu corpo abaixou-se. Senti passar sobre nós algo grande e frio. Arrepiei-me. Um calafrio me dominou.<br />Passou.<br />Quando levantou perguntei:<br />- Porque paramos?<br />- Não era tempo de continuar. Observe.<br />Quando levantei meu olhar, notei que três serpentes deslizavam ao longe.<br />O bosque havia chegado ao fim.<br />Quando saímos, seu corpo tombou.<br />Assustada, inclinei-me sobre ele e notei seus olhos se fecharem. Coloquei meu ouvido sobre seu corpo. O coração havia parado.<br />Comecei a chorar. Sentia-me sozinha. Perdida.<br />Algo se aproximou. Era o cavalo negro.<br />- Vem comigo. Sou forte e valente.<br />- Retira-te daqui. Não te escolhi eu. Aparta-te.<br />Levantei-me, cansada e machucada. Precisava fazer algo. Notei que próximo a nós havia uma pequena fonte de água cristalina. Caminhei até ela e com as mãos em concha comecei a trazer água e limpar seus ferimentos.<br />Limpei todo o sangue e suor. Quando terminei a fonte secou.<br />O véu da noite estendeu-se sobre nós.<br />Percebi que sua respiração voltou. Mas seus olhos não abriram. Exultante o observava.<br />Seu corpo começou a tremer. Percebi que estava frio. No entanto me encontrava quente. Encostei-me a ele e nossa temperatura igualou-se.<br />Quando o sol completou seu ciclo e reapareceu, ele encontrava-se em pé.<br />- Podemos continuar.<br />O campo estendia-se a nossa frente. Avistamos ao longe um carvalho. Aproximamos.<br />- Chegou o momento final - notificou-nos o carvalho - No entanto, apenas um poderá continuar. Escolham qual irá retornar e com a adaga que trouxestes retirará a vida do qual decidir aqui permanecer.<br />- Mata-me! Já a ajudei chegar ao fim e já vivi por muito tempo. Não necessito viver mais.<br />- Nunca! Como matarei um ser que tanto me ajudou? Retira senão a minha vida e retorna para seu povo.<br />Ele fechou seus olhos e aproximou sua cabeça a minha. Senti que precisava fechar os meus também. E assim fiz.<br />Naquele momento comecei a ouvir seus pensamentos.<br />"Como saberemos se o carvalho nos diz a verdade? Porque haveríamos de tirar a vida do outro se iniciamos juntos essa jornada?"<br />Naquele momento entendi o que precisava fazer.<br />Segurei minha adaga e num impulso feri o tronco do carvalho. Ele tombou.<br />As cachoeiras surgiram novamente.<br />A cigana.<br />O anão.<br />Os animais.<br />- Bravo! Bravo!<br />- Já podes tornar-se integrante de nosso Reino. - disse a cigana. Ela me guiou até a cachoeira de fogo e disse:<br />- Adentra-te.<br />Emergi meus pés e fui caminhando até emergir totalmente e o fogo cobrir minha cabeça. Sentia meu corpo queimar, porém sem me ferir.<br />- Volta-te e faz o mesmo na água.<br />Assim o fiz.<br />Quando saí, o anão caminhou até eu e o cavalo com uma corda nas mãos. Abaixou-se e amarrou-a em sua pata e depois em meu tornozelo.<br />- Serão eternamente únicos. Você dele. E ele seu. Ambos um.<br />A cigana agitou seu pandeiro. O anão dedilhou seu bandolim e retomaram a música que me conduziu aquele lugar.<br />Todos travaram uma bela dança.<br />Percebi que a corda havia desaparecido. E o cavalo também. Mas sentia sua presença dentro de mim.<br />Era momento de retirar-se.<br />Com lágrimas na face parti por entre o campo dourado carregando o significado daquela missão.<br />Calcei meus sapatos.<br />E o sol se pôs na Esquina.Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-37175746775905452452009-09-11T19:40:00.000-07:002009-09-11T20:02:56.238-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_EGs-zGKfd37gVLO-mAhptKBA4SA6kVDbDQr9fjAU4lP-iIBkf1AET0RtGjxlkLNQKjOIKuoMCZICRy2eKkT5TgQVTYtp8vn7RTs_6GC3gHhqPceRTn39t46JhJRX57mzgUyD1TU7MpoP/s1600-h/grav_mulher_asas_de_folhas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5380410995071860306" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 254px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_EGs-zGKfd37gVLO-mAhptKBA4SA6kVDbDQr9fjAU4lP-iIBkf1AET0RtGjxlkLNQKjOIKuoMCZICRy2eKkT5TgQVTYtp8vn7RTs_6GC3gHhqPceRTn39t46JhJRX57mzgUyD1TU7MpoP/s320/grav_mulher_asas_de_folhas.jpg" border="0" /></a>Deitada sobre o pesado cimento da calçada da Esquina, sinto meu corpo molhar-se. Espantada, assento-me e percebo que a calçada encontra-se molhada.<br />Num repente observo uma gota de água escapulir do cimento e subir em direção ao céu.<br />Inúmeras gotas começam a escapar do cimento elevando-se ao firmamento e gradativamente formando uma espessa camada de nuvens. Um verdadeiro espetáculo “anti-gravitacional”. Sobem como em câmera lenta, sendo possível observar saírem do solo e estourar, de encontro as inúmeras nuvens já existentes.<br />As gotas cessam.<br />As nuvens descem. Descem morosas formando degraus. Precisamente sete degraus.<br />Levanto e caminho em direção ao primeiro degrau. Galgo todos os sete. São deliciosamente macios.<br />Chego ao topo.<br />Aos meus pés, nuvens. Sobre minha cabeça há um movimento incessante de folhas. Folhas secas como as de Outono. Farfalham e fazem um movimento circular.<br />Ao centro das nuvens jaza uma frondosa árvore pejada de limões. Limões verdíssimos e grandiosos.<br />Um dos galhos sobressai. Abaixo dele encontra-se um trono. Um trono forrado com veludo verde e com delicadas figuras de anjos e querubins esculpidos sobre o ouro que o reveste.<br />Assentada sobre ele, está uma mulher trajando um longo vestido nunca por mim visto antes. Este é de um tecido transparente, sendo possível notar seu corpo sob ele, mas dominado por inúmeros tons de verde.<br />Sua cabeça carrega uma graciosa coroa confeccionada por galhos entrelaçados. É uma Rainha. Encontra-se imóvel e parece não notar minha presença.<br />Um limão cai.<br />As folhas cessam seu movimento sobre nós.<br />A Rainha levanta de seu trono e caminha em direção ao tronco da árvore. Toca-o com o dedo indicador. O tronco abre uma fenda e da mesma emana um líquido pastoso também verde. A rainha retira o líquido e o passa sobre seus lábios. Volta a sentar-se.<br />O movimento das folhas retorna.<br />Outro limão cai.<br />As folhas novamente cessam seu movimento.<br />Por dentre as folhas sai uma graciosa mulher. Possui pequenas asas. Parece ser toda feita de folhas secas. Possui traços delicados, no entanto não possui braços e nem mãos.<br />Ela desce.<br />Caminha em direção a árvore ignorando a presença da rainha.<br />- Aqui têm cheiro de limão.<br />Abaixa-se e senta ao lado do limão derrubado.<br />- Gostas daqui?<br />...<br />- Onde habito nada cai. Tudo flutua. Sempre.<br />...<br />- Nunca provei um limão. Não possuo mãos, como pode observar, impossibilitando-me de apanhá-lo.<br />...<br />- Gostaria de ter mãos. Com dedos. Como as de sua Rainha.<br />...<br />- Você não pode voar? Imagina se ao invés de cair você voasse? Seria agradável ver limões voando.<br />O tronco da árvore emite um gemido. Aos poucos saem dedos, mãos e braços. Caem ao chão. O tronco se fecha.<br />A mulher levanta-se e caminha até eles. Estes voam e encaixam-se em seu corpo.<br />Desajeitada com seus novos membros, ela abaixa e apanha o limão.<br />Observa-o atentamente.<br />Inspira seu aroma. Expira.<br />Aperta-o entre os dedos, sentindo sua textura.<br />Leva-o a boca dando uma grande mordida.<br />Ao começar a mastigar a mulher cai ao chão, de joelhos.<br />As folhas cessam novamente.<br />Escorre um filete de sangue que parece sair das asas da mulher. O pequeno filete começa a aumentar. Aos poucos o chão até então alvo, torna-se escarlate.<br />Suas asas caem.<br />- Não - ela diz gritando - não gosto de limão!<br />As folhas secas desaparecem e as da árvore começam a cair lentamente.<br />Quando todas já estão ao chão, a mulher estoura e vira uma poeira marrom.<br />A Rainha, até então imóvel, levanta-se de seu trono.<br />Caminha até o limão. Leva-o em direção a boca. Quando toca seus lábios, a fruta restitui-se a forma original, como se nunca tivesse sido provada.<br />A Rainha abre sua mão e o fruto levita ao seu lugar original.<br />Ela caminha até as asas enodoas de sangue. Retira sua veste e as colocam sobre suas costas.<br />Sobre nós desce um vendaval, levantando todas as folhas.<br />Quando o vendaval cessa o chão volta a ser alvo.<br />A árvore encontra-se frondosa.<br />O trono vazio.<br />Sua Majestade encontra-se paralisada. Morta.<br />Seu corpo é engolido pelas nuvens.<br />A raiz começa a emitir um movimento. Seus galhos começam a balançar. A árvore inteira abre-se ao meio e de seu interior, uma Rainha - sem asas - caminha em direção ao trono. Possui os mesmos traços e trajes da anterior.<br />Senta-se sobre o trono.<br />As folhas secas retomam seu incansável ciclo.<br />O chão treme.<br />As nuvens transformam-se em gotas.<br />E junto com as gotas, retorno a calçada da Esquina.<br /><br /><div></div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-87114812857990128892009-09-05T09:23:00.000-07:002009-09-05T09:56:09.829-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMpCCDjN8BMApgoRQjjrvwC32sOXcTmG0E61BrjSDHWzmkqeFFNYyDOnZyoCnlOY6ZePswSYw9YbQMKLOEgTiSDBAYj3Qv95vcJ1EF9yQcQcKnhMCXkw9stR8RBN4Et8Z76gi0qflHu8ca/s1600-h/monet_giverny.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5378021872057520546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 355px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMpCCDjN8BMApgoRQjjrvwC32sOXcTmG0E61BrjSDHWzmkqeFFNYyDOnZyoCnlOY6ZePswSYw9YbQMKLOEgTiSDBAYj3Qv95vcJ1EF9yQcQcKnhMCXkw9stR8RBN4Et8Z76gi0qflHu8ca/s400/monet_giverny.jpg" border="0" /></a> É por - do- sol na Esquina. O sol dilui-se sobre o cimento. Calmo. Lento. Preguiçoso. Majestoso.<br />Como um menino espreguiça seus braços lânguidos. E suas línguas de fogo esvaem-se.<br />Sobre ele noto um pequeno borrão que gradativamente aproxima-se.<br />Aproxima-se.<br />Aproxima-se.<br />É um balão. Imenso. Grandioso e magnífico como são os balões. Emana certa magia. E esse não era diferente. Negro e com estrelas douradas o circundando.<br />Desce tranquilamente pousando sobre a Esquina.<br />Paira uma atmosfera de mistério.<br />A noite cai sobre nós.<br />Escuto o ruído de uma porta. É a porta do balão se abrindo.<br />Abre totalmente.<br />Curiosa caminho até ele. Mas é impossível enxergar algo.Está tudo negro.<br />Adentro o balão. A porta se fecha com um estrondo.<br />Aos poucos surge uma luz. Fraca. E passo a passo observo nascer o sol. Uma grande claridade agora me preenche.<br />Não é o sol de todo dia. É mais forte. Impactante. Mágico.<br />Aspiro. E sinto um doce cheiro de baunilha penetrar por minhas narinas.<br />Aos poucos abro meus olhos até então semi cerrados. E percebo que estou sentada na orla de uma praia.<br />Sinto a areia sob meu corpo. Uma areia fina, delicada e cândida. Meus sapatos desapareceram. E meus pés deliciam-se em penetrar meus dedos na areia e emergir novamente.<br />Atrás de mim escuto o burbúrio das ondas. Viro-me e contemplo o mar. Pomposo e num tom de esmeralda. Levanto-me e caminho até ele. Deixo as ondas baterem em meu tornozelo. Batem e voltam. Sempre. Num ritmo constante.<br />Me encontro embevecida com toda essa maestria quando escuto o som de um trotar.<br />Olho e vejo passar um unicórnio. Um lindo unicórnio, diga-se de passagem. Vermelho e com chifre de mármore. Ele para. E olha para mim curioso.<br />Ele abre sua boca e emite palavras por mim desconhecidas. Palavras que me cutucam. Que me preenche mesmo sem eu entender. Palavras que fazem meu corpo mortal tremer e temer.<br />Ao notar que não entendo sua linguagem, ele caminha até mim. Inclina sua cabeça e toca seu chifre em minha testa.<br />- Agora podemos conversar. Você irá me entender.<br />Sorrio.<br />- Quem é você? De onde vem?<br />- Sou uma humana. Viajante. Venho da Terra.<br />- Interessante. Poucos terráqueos nos visitam. Como conseguiu chegar até aqui?<br />- Através de um balão que pousou em minha Esquina Surreal.<br />- Você encontra-se em uma ilha.<br />Só então observo atrás da praia, se estender uma sutil vegetação. Algumas árvores e muitas flores forrando o chão. Descobri a origem do odor de baunilha.<br />- Posso conhecê-la?<br />- Sim. Precisamos descobrir o motivo de sua vinda. E só adentrando ao jardim iremos descobrir.<br />Retiro-me do mar. Ele se abaixa e diz:<br />- Pode subir.<br />- Não irei te machucar?<br />- Apesar de parecermos frágeis, somos como de rocha interiormente.<br />Subi.<br />Cavalgamos em direção as flores.<br />Passamos por árvores de variadas formas e tamanhos. Algumas por mim já conhecidas, outras nunca vistas.<br />Flores rasteiras, flores altas que subiam por entre as árvores e seus troncos. O jardim parecia ser infinito.<br />Estava contemplando um espetáculo de cores. E o cheiro. Forte e doce.<br />Caminhamos por muito tempo. Enquanto caminhávamos o unicórnio cantava. Não consegui entender seu canto. Mas era belo. Belíssimo. Ouso dizer sublime.<br />Estávamos assim, quando encontramos uma cerca de madeira. Simples. Tosca. Ela abriu sozinha, dando passagem a nós.<br />Era um caminho. Um caminho rodeado por árvores semelhantes aos salgueiros. No chão havia pedras. Brilhantes. Diamantes. Era um caminho plano.<br />O unicórnio parou de cantar.<br />Chegamos frente a uma mesa do mesmo material da cerca. Sobre ela haviam três taças de ouro. Do mesmo tamanho. De uma mesmíssima dimensão.<br />O unicórnio abaixou e eu desci.<br />Quando desci, ele dobrou suas patas, e ficou como de joelhos, sobre o chão. E eu entendi que precisava fazer o mesmo.<br />Estava diante de algo muito grandioso.<br />Ficamos assim. Silêncio.<br />Até que vi um pássaro descer. Um pássaro grande semelhante as fênix. Era dourado.<br />Desceu e pousou sobre a mesa.<br />Ao pousar dobrou suas patinhas ficando como nós, de joelhos.<br />Do alto desceu um clarão. Após o clarão um facho de fogo. Caiu primeiramente sobre a taça do meio. Depois sobre a taça da direita. E seguiu a da esquerda. Subiu novamente. Só então notei que o fogo havia descido do sol.<br />O pássaro levantou-se. Colocou seu bico pontudo dentro da taça do centro e bebeu do seu líquido interior. Fez o mesmo com a taça da direita e logo após com a da esquerda.<br />Ao pousar a última taça sobre a mesa o pássaro deitou-se sobre a mesa.<br />O clarão retornou. Dessa vez sobre o pássaro. Este último levantou-se. E começou ali uma transfiguração. Das patas nasceram pernas. Das asas braços.<br />O pássaro transformou-se numa criança. Pequena e alva. Encontrava-se nua. Mas para estar ali era preciso estar assim.<br />A criança caminhou até nós. Contemplou-nos e emitiu o sorriso. Um sorriso amplo e sincero. Extremamente sincero, como só as crianças conseguem emitir.<br />Passou suas mãozinhas sobre meu cabelo. Ao tocar-me meu corpo estremeceu e senti-me estagnada. Paralisada. Uma sensação de paz me invadiu. Não sentia nada. Nem mesmo as batidas de meu coração.<br />Ela retirou sua mão depressa. E a pousou sobre o unicórnio. Travaram um canto. O mesmo canto. Como se fosse ensaiado. Havia sons de violinos e flautas. Até hoje desconheço a origem.<br />Retirou a mão do unicórnio e virou-se. Caminhou novamente até a mesa. E subiu. Voou.<br />O unicórnio me tocou com o chifre. Entendi que precisávamos nos retirar. Subi.<br />E voltamos pelo caminho dos diamantes. Ao chegar à cerca paramos. O unicórnio abaixou e abocanhou um pequeno diamante.<br />Passamos pelo jardim. E chegamos novamente à praia.<br />Desci. Ele colocou o diamante na areia.<br />- Vire-se.<br />Obedeci. E com o canto dos olhos observei o unicórnio quebrar o diamante em sua boca. De dentro escorreu um líquido transparente e límpido. Ele soltou o líquido sobre meu cabelo. Escorreu e senti um gostoso arrepio me invadir.<br />- Sua viajem termina aqui Terráquea.<br />- O que te digo?<br />- Nada. Encontrar-nos-emos novamente.<br />E com o mesmo trotar que chegou se retirou.<br />A claridade diminuiu gradativamente. A noite voltou.<br />Retirei-me do balão. Sentei sobre a calçada da Esquina com aquela sensação inefável e inexprimível me dominando.<br />E observei o balão voar, despedindo-se da Esquina.<br /><div></div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-78994704012674791782009-08-27T10:55:00.000-07:002009-08-27T11:17:59.591-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKAmE4lnPh2Agjr7PYM-g079Rryoj9mbdObLINh-ReD7a1BJlTgdkor53z4-J1pAjALcIkBhaFc_H2HMBIQxyPL7EaMMHNSqEX8BUU3TkeYbBUoAblzm4tX129rHCY-elKqw5prhAy_C0D/s1600-h/umbrella.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5374709094360343842" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKAmE4lnPh2Agjr7PYM-g079Rryoj9mbdObLINh-ReD7a1BJlTgdkor53z4-J1pAjALcIkBhaFc_H2HMBIQxyPL7EaMMHNSqEX8BUU3TkeYbBUoAblzm4tX129rHCY-elKqw5prhAy_C0D/s320/umbrella.JPG" border="0" /></a> Uma fita amarela voa. Uma fita amarela como queira imaginar.<br />Ela pousa sobre a calçada da Esquina.<br />- Cadê minha fita amarela? - diz uma voz masculina aguda.<br />Adentra a cena, esbaforido, um palhaço. Alto, com roupas coloridas, uma cartolinha marrom na cabeça. Possui pequenos tufos laterais de cabelo laranja. Segura um imenso guarda-chuva, enrolado, também colorido. Sapatos também imensos e - que interessante! - esse palhaço tem algo diferente dos demais: possui quatro mãos. Sim, duas mãos como as nossas e logo abaixo mais um par de mãos. Par de mãos superior, par de mãos inferior.<br />Ele tromba com uma menina. <div><div><div>Menina de cabelos ruivos, preso com um imenso laço azul. Vestido rendado e sapatos de verniz. Tudo azul. E uma pequena boneca de pano, presa em seus braços.<br />Trombam. </div><div>O palhaço cai e a boneca voa.<br />A menina o olha com pavor em seus olhos. Sim é visível o medo que invade suas entranhas.<br />- Menina você viu uma fita amarela? - diz apoiando-se sobre as mãos inferiores para levantar.<br />A menina apenas olha, não conseguindo ocultar seu temor.<br />- Você... Você derrubou minha boneca!<br />- Eu apenas quero minha fita amarela que voou para este lado!<br />A menina se ajoelha em direção à boneca. Segura delicadamente em suas mãos.<br />- Não chora. Mamãe chegou. - Embala a boneca - Shiuuu! Está tudo bem... Eu estou aqui!</div><div><em>Dorme filhinha, mamãe já está aqui...<br /></em>O palhaço encontra sua fita amarela.<br />- Achei!<br />- Silêncio! Ela não pode te ouvir senão chora. Não se aproxime dela!<br />- Espere... Sinta... Está chovendo!<br />- É bom que chova! Quem sabe os pingos te molham e te apagam daqui! Já ficou muito tempo nesse lugar. Esse lugar não te pertence! Isto (aponta o guarda-chuva) não te pertence! Nada te pertence!<br /><em>Dorme filhinha, mamãe já está aqui...<br /></em>O palhaço abre seu guarda-chuva.<br />- Veja, eu sabia que choveria. Você, no entanto, não. - Sai saltitando e cantalorando.<br />- Prefiro não saber mesmo. Abomino o previsível.<br />Ele para.<br />Caminha pé ante pé em direção a uma pequena pedra. Uma pedra cinza e chata.<br />- Menina! Um achado!<br />Ela olha.<br />- Uma pedra. O que poderá fazer com uma pedra?<br />- Poderei concertar meu carro. Era exatamente esta a parte que faltava.<br />- Como se pode concertar um carro com uma pedra?<br />- Disso eu entendo muito bem. Vou guardá-la comigo.<br />Segura a pedra com sua mão esquerda do par de mãos inferior.<br />- E sua fita amarela? Já a encontrou?<br />- Sim. Já está comigo!<br />- Tem certeza?<br />- Não podemos ter certeza de nada. Apenas acreditar. E eu acredito que esteja.<br />A menina levanta.<br />- Parou a chuva.<br />- Pra mim ainda não. Sinto pesados pingos cair sobre meu guarda-chuva.<br />- Estás louco!<br />- Quem não está?<br />- Prefiro pensar assim. É mais confortável.<br />- De conforto estou carregado. Prefiro sentir feridas, espadas e lanças. Nada temo.<br />- És um palhaço imortal?<br />- Posso te dizer que sim. Na vida já passei e me enfadei. Nada de mortal me atinge mais.<br />- Lembrei de minha mãe. Ela dizia que se quiséssemos ser imortal era simples, bastava querer. Até hoje não entendo.<br />- Nem eu.<br />- Sua mãe te dizia isso? - diz a menina com espanto.<br />- Não. Mas a sua sim.<br />Pousa um silêncio. A menina deita e arruma sua boneca sobre seu braço direito. O palhaço vira seu guarda-chuva de ponta cabeça e senta sobre ele.<br /><em>Dorme filhinha, mamãe já está aqui...</em><br />- Parou a chuva.<br />- Sim. Prepare-se os peixes já chegam. Isso é certo: quando chove, eles chegam.<br />Passa sobre eles um cardume de lindos peixes dourados.<br />- Chegaram. Andam sempre em bandos.<br />- Temem a solidão. Sábios são. Solidão me enoja. Faz-me sentir fraca e impotente.<br />- Faz-se forte apenas quando estás acompanhada?<br />- Sim, por isso não perco minha boneca. Sem ela enfraqueço.<br /><em>Dorme filhinha, mamãe já está aqui...</em><br />Passam nesse momento três peixes: um vermelho, um verde e um lilás.<br />Travam uma linda dança. O peixe vermelho rodopia empolgado. O verde saltita pelo ar e o lilás apenas observa. O vermelho para, o lilás inicia. Gira em volta do palhaço e desce sobre a cabeça da menina. Sobe novamente.<br />O palhaço aplaude. Os peixes agradecem e retiram-se.<br />- Que bela dança - diz a menina - E sem música.<br />- Não ouvistes a música? Cada movimento era contemplado por uma belíssima canção!<br />- Não ouvi. Aliás, prefiro não ouvir. Música meche com a boneca. E a prefiro imóvel.<br />- Como és egoísta. Pensa por ti e por ela. Deixa a boneca pensar livremente.<br />- Ela não pode tomar suas próprias decisões.<br />- Como és tola menina.<br />Silêncio.<br /><em>Dorme filhinha, mamãe já está aqui...</em><br />- Já não passam mais peixes.<br />- E seu temor por mim também.<br />- Não sinto temor por ti. Sinto por ela. Ela não pode te conhecer.<br />- A chuva voltará. Vou me retirar antes que chegue.<br />O palhaço levanta e fecha seu guarda-chuva.<br />- Foi bom ter voado minha fita. Se não fosse por ela não teria encontrado a pedra.<br />Retira-se cantarolando.<br />A menina senta. Coloca a boneca sobre o colo.<br />- Não se preocupe. Se chover, te protejo.<br />Delicados pingos de chuva começam a cair.<br />- Voltaram! Será breve... Eu acho.<br />A boneca nesse momento pisca. E de sua boca sai uma fita amarela. Aquela que vocês imaginaram.<br /><em>Dorme filhinha, mamãe já está aqui...</em></div></div></div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-82222569339922530792009-08-26T10:46:00.000-07:002009-08-26T20:25:30.357-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3M0PgrbzbhRdr6ZRLBQZ53763pisplytijkuKhaAf0FogIbXziSgtLx51WWVVmanczhmvsjixIOkGD4KbTKqT2OsiXw9YC8at7qDiKNZHnKXrlrvBIR8u8pTAXLf2HL-RMPGIcKTquKPu/s1600-h/attached_file_9169.jpg"></a><br /><div>Essa noite recebi uma ilustre visita na Esquina.<br />Um mago que chegou sobre uma balança. Uma balança constituída basicamente de cordas e madeira. Balançava sereno, como se nada de externo o afetasse.<br />Não chegou só.<br />Em seu colo repousava um gato. Um gato em tons de esmeralda.<br />Sobre seu pé apoiava-se um coelho. Um coelho com olhos grandes que nunca piscavam.<br />E em volta de seu pescoço, enrolava-se uma serpente.<br />Eram três conectados em um.<br />Balançavam serenos.<br />O mago sustentava uma expressão austera e de seu olho esquerdo via-se verter lágrimas. Lágrimas de sangue. Sangue denso e de um vermelho vivo.<br />Gotejava uma a uma sobre o cimento da calçada. E ao tocar o cimento, transformava-se em delicados cristais.<br />1 segundo.<br />2 segundos.<br />3 segundos.<br />PUF!<br />O cristal estourava.<br />Brotar.<br />Escorrer.<br />Pingar.<br />Transformar.<br />Estourar.<br />O balanço cessa.<br />O gato salta e caminha tranquilamente, em círculos. Dá três voltas em torno do mago e senta.<br />Brota.<br />Escorre.<br />Pinga.<br />Transforma.<br />Mas este não estoura.<br />O gato caminha até ele, coloca-o na boca. Leva para o mago. Este pega o cristal com ternura. Num impulso o arremessa contra o chão. O cristal parte-se em três.<br />O gato novamente caminha, agora em direção a uma parte. A primeira. Coloca-a na boca e a digere. Retorna para seu antigo posto, no colo do mago.<br />O coelho desliza pelos pés do mago em direção ao chão. Abocanha a segunda parte do cristal e caminha até o mago.<br />Este parte o cristalzinho em dois e penetra ambos nos respectivos olhos do coelho, que retorna aos pés do mago.<br />Agora a serpente. Desenrola-se do pescoço do mago e com suavidade segue em direção a terceira parte do cristal. Enrola-se sobre ele. Aos poucos se estica novamente.<br />Ao retornar para o pescoço do mago já não havia mais parte alguma do cristal.<br />Todos os olhares voltam-se para cima. Sobre nós descem dois astros.<br />Um grande e resplandecente de onde gotejam lavas.<br />O outro menor e opaco emitindo filetes de prata.<br />O mago levanta cada ser ali presente em direção aos astros.<br />Deixa gotejar na boca do gato um pingo da lava e um filete de prata.<br />Sobre os olhos do coelho, o mesmo. Lava e filete.<br />E sobre o corpo da serpente deixa escorrer lava e filete.<br />Voltam as suas respectivas posições.<br />Os astros partem.<br />O balanço suave retorna.<br />O mago emite um largo sorriso, seguido de uma estrondosa gargalhada.<br />E gargalhando desapareceu, devolvendo-me a solidão da Esquina.</div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-8493026415438739882009-08-25T09:02:00.000-07:002009-08-25T11:04:10.739-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcy_iYCfJZAKHU4D8TWRG2-RN7ML4t_BM12YxAa4km9VkyXhG5xMnBY7Ec1CQE0jKpVRsh_6hxZZ4UKEO544Ni62Vadz7c78k6ZMmPQ-QsYZRvf8i94g12mdJhQbGSuW68Rsgf8jaM9grp/s1600-h/s3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5373933558581678370" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 334px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcy_iYCfJZAKHU4D8TWRG2-RN7ML4t_BM12YxAa4km9VkyXhG5xMnBY7Ec1CQE0jKpVRsh_6hxZZ4UKEO544Ni62Vadz7c78k6ZMmPQ-QsYZRvf8i94g12mdJhQbGSuW68Rsgf8jaM9grp/s400/s3.jpg" border="0" /></a> Recolho-me na esquina meu canto predileto. E quando digo canto refiro-me ao canto musical que chega nesse momento aos meus ouvidos. Sobe pelo solo, atravessa a pesada calçada de cimento vermelho e finalmente chega aos meus ouvidos. Um canto longínquo, mas belo.<br />Num repente, o cimento vermelho modifica-se. Começa a transformar-se em relva, verde e fresca com o orvalho da manhã. Árvores surgem, das mais variadas espécies, pairando no ar um odor adocicado de frutas silvestres.<br />Quando dou por mim, estou na porta de um cogumelo. Sim, um imenso cogumelo com janelas e porta. A porta encontra-se aberta, me convidando para entrar.<br />Entro e caminho devagar, pois nunca tinha visitado aquele cogumelo antes. Outros sim. Aquele não.<br />Escuto vozes. Muitas vozes. E o canto, que não cessa e cada vez fica mais forte. Mais denso. Mais colorido, se é que você pode me entender.<br />Caminho por um longo corredor, iluminado apenas por um candelabro. A cada passo dado pareço estar mergulhando. E realmente, estou mergulhando. Meus pés sentem água. Uma água “alanrajada” e brilhante numa temperatura muito boa. Nem muito fria e nem muito quente.<br />Uma sensação de torpor invade meu corpo.<br />Meus pés param. Não obedecem mais ao meu comando. Sinto-me paralisada externamente, pois dentro de mim parece haver um terremoto.<br />Um tremor interno parte dos meus pés, percorre minhas pernas, tronco, braços, mãos, pescoço e finalmente a cabeça. Tudo para. O canto que escutava, agora parece estar saindo de mim. Sim, algo dentro de mim emite o canto. E ele sai.<br />Sai por meus poros. Cada poro emite uma nota daquele canto sublime.<br />Sinto tocarem minha mão. Quando olho, ao meu lado esquerdo está algo nunca visto antes. Não é homem. Não é mulher. No entanto, possui corpo e cabeça. Parece flutuar. Cabelos longos esvoaçam como se ali houvesse um grande vento. Ele toca minha mão e sou levada por ele passivamente ao fundo daquelas águas.<br />Caminhamos lentamente. Ele olha diretamente aos meus olhos, e sinto como se nos conhecêssemos a muito tempo. Sorri com brandura.<br />Percebo que estamos muito abaixo do nível da água, no entanto não está mais escuro. Está muito iluminado. E o canto agora me preenche. Carrega-me. Domina-me.<br />Paramos.<br />Sem me olhar, ele diz:<br />- Aqui flui a eternidade.<br />Sua voz ressoa alta e forte, como um trovão.<br />Olho a minha volta. O canto cessa.<br />- Você não pode entrar. Somente observar. E sentir. E acreditar. Aqui habita algo que seres racionais precisam desprender-se de sua racionalidade para entender. Irão sentir algo que nunca sentiram e em sua ânsia de querer entender e colocar significado em todas as coisas, acabarão estragando o lugar.<br />Continuamos a caminhar. Passamos por uma ponte, onde a cada passo dado sinto meus pés deslizarem por letras entalhadas em cedro.<br />"S"<br />"É"<br />"C"<br />"U"<br />"L"<br />"O"<br />"S"<br />"SÉCULOS".<br />- Não vamos sair da ponte, pois senão o que está desse lado nos dominará. Apenas observe.<br />Observei. Mas não era possível ver absolutamente nada.<br />Estava tudo negro, gélido e estagnado. O único movimento era emitido pela cabeleira do ser que me acompanhava.<br />Fixei meu olhar. Foi quando vários pontos começaram a surgir. Pontos brilhantes. Espera aquilo não eram pontos. Eram olhos. Vários olhares.<br />Fixos em mim. Em cada olhar era estampado o medo. Medo de algo.<br />- Esses vivem no assombro. São dominados pelo Nefasto. Muitos seres racionais preferem habitar esse lugar. Na verdade posso te dizer, a grande maioria. Como pode perceber deixamos livre. Colocamos dentro de cada ser o livre arbítrio. Cada um busca aquilo deseja. A ponte possui dois lados. É apenas questão de escolha!<br />- Agora observe embaixo da ponte.<br />Embaixo fluía uma neblina. Dessa neblina misturavam-se inúmeras cores. Cores nunca antes observadas e outras já existentes.<br />- Aqui observamos o pensamento dos seres racionais. As cores brilhantes são aqueles que conseguem desprender-se de sua racionalidade e achegar-se a nós. As cores intricadas são daqueles trancafiados em si mesmos, que não conseguem desprender-se de si mesmo. E outras cores seguidores de Nefasto. Existem cores repetidas, aliás muitas. E cores que nunca foram vistas antes.<br />De repente tudo parou.<br />- O cogumelo irá ruir. Não se preocupe. Estivemos, estamos e estaremos em todos os lugares, ao mesmo tempo. Esse foi apenas um portal. Leve consigo essa vela. Quando a chama se apagar nos encontrará novamente.<br />Minha visão tornou-se escarlate. Senti-me sugada por um vento muito forte e rápido, pois quando abri meus olhos estava na Esquina novamente. Segurava a vela muito forte a ponto de a cera escorrer em meus dedos.<br />Coloquei-a sobre a mala. A mala que chegou carregando a Vida.<br />Fechei meus olhos. Fora uma viajem longa. Meu corpo parecia cansado. Reclinei-me sobre o cimento e sorri. Meus poros aos poucos se fechavam, e percebi cada nota do canto maravilhoso esvair-se em direção a chama resplandecente da vela.Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-88731598895887298982009-08-24T12:06:00.000-07:002009-08-24T17:54:45.344-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK3hrok9k_2FV8QGd3nxC8bn7e9lCmYKPmrye2VvKJSJ3QzAatAiTzLlXVNJPmUWV66DZ85YJil7dWeFZzTi8mHuQhqZjChGeqqCKPfGkgN7zgPYLHh3ORwSGaYZ92mEhkQZ1xh0CZpRVg/s1600-h/v2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5373609354469513826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 259px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK3hrok9k_2FV8QGd3nxC8bn7e9lCmYKPmrye2VvKJSJ3QzAatAiTzLlXVNJPmUWV66DZ85YJil7dWeFZzTi8mHuQhqZjChGeqqCKPfGkgN7zgPYLHh3ORwSGaYZ92mEhkQZ1xh0CZpRVg/s400/v2.jpg" border="0" /></a><br /><div>Na esquina Surreal, sento-me. Observo uma caixa pequena e retangular. Abro. Escapa um ar abafado. Dentro observo pessoas.<br />Muitas pessoas. A maioria com semblantes cálidos. Olhares fugidios. Cansadas talvez...<br />Um homem coça a cabeça. Uma criança chora.<br />Uma senhora quase escorrega, escorando-se em um jovem de mochila.<br />Uma mulher com semblante altivo discute com um pequeno aparelho. Não consigo entender qual o motivo da discussão.<br />Um aparelho pequeno. Tom de cinza. Ele abre e fecha.<br />Na frente da caixa retangular possui um homem, gordo e careca que parece guiá-los. Eles confiam no homem gordo e careca.<br />Escuto reclamações. Uns reclamam de a caixa estar lotada. Outros pelo atraso da caixa.<br />Começo a ler pensamentos.<br />Homem que guia:<br />"Como deixei pude não sair com a Laura ontem. Será que consigo hoje... Ela me pareceu brava. Mas acho que não, ela sempre me aceitou de volta. Não custa tentar... Na hora do almoço mandarei uma mensagem a ela.”<br /><br />Mulher do aparelho:<br />"Canalha. Não pode puxar meu tapete assim! Vou mostrar a ele quem manda. Onde já se viu. Eu que dou duro o dia inteiro e a outra que é favorecida. Isso não pode acontecer! Não comigo!"<br /><br />Enjôo de ler pensamentos. Sinto ânsia.<br /><br />Outros tecem diálogos. Quem sabe seja valioso.<br /><br />Aproximo na expectativa de entender o que dizem:<br /><br />- Bom dia.<br /><br />- Bom dia, tudo bem?<br /><br />- Tudo. Hoje fez sol.<br /><br />- Sim. Diferente de ontem que estava um pouco frio.<br /><br />- Tem razão. O homem do jornal disse que amanhã terá um pouco mais de vento.<br /><br />- Eu ouvi dizer mesmo.<br /><br />...<br /><br />- Está trabalhando naquele lugar ainda?<br /><br />- Sim. Gosto de lá. E você, o que anda fazendo?<br /><br />- Casei. Tive dois filhos.<br /><br />- Verdade? Tenho três. Os seus dão trabalho?<br /><br />- Não, ainda são pequenos.<br /><br />- Então se prepare. Filho é despesa e dor de cabeça.<br /><br />- Minha amiga me falou o mesmo.<br /><br />- Bom, chegou o meu ponto. Aparece em casa.<br /><br />- Eu vou sim. Mas vai você em casa também.<br /><br />- Quando der eu vou sim. Até mais.<br /><br />- Até.<br /><br />Fecho a caixa num súbito. Sinto algo embolar dentro de mim e subir como fogos. Explode. Da minha boca saem estrelas coloridas.<br />Observo uma a uma cair ao chão.<br />O que fazer com elas?<br />Já sei! Quem sabe colocar dentro da caixa?!?<br />Coloco.<br />Todos observam.<br />Não conseguem entender de onde surgiram estrelas. Como não entendem, as ignoram.<br />Pisam nelas. Chutam-nas.<br />Retiro as estrelas coloco no bolso.<br />Quanto à caixa guardo num canto da esquina. Quem sabe um dia entenderei a espécie contida dentro daquela caixa.</div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9090467878085920723.post-24873650297692010182009-08-24T11:05:00.000-07:002009-08-24T17:58:38.108-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieStMQeS08BY9GQ7jYLGAyF_L9EOGnGQxQPMuETl_pfOvMFpdG6iJlK06-ykx3EAxp-6RjUD3HvMzHVait-Y8cppxwKtuqI_D2LFO0zCF1vM10shuRknh1QGXMvSeqvdH61-5noKauBqUm/s1600-h/s5.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5373593441467170786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 295px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieStMQeS08BY9GQ7jYLGAyF_L9EOGnGQxQPMuETl_pfOvMFpdG6iJlK06-ykx3EAxp-6RjUD3HvMzHVait-Y8cppxwKtuqI_D2LFO0zCF1vM10shuRknh1QGXMvSeqvdH61-5noKauBqUm/s400/s5.jpg" border="0" /></a><br /><div>"Nós, humanos, só conhecemos os rios na superfície. Os crocodilos os conhecem nas funduras. Nas funduras os rios são escuros e tranquilos como os sofrimentos dos homens. Essa eu não sabia, que os sofrimentos são escuros e tranquilos...</div><div>Aí ele diz uma coisa inusitada: que o rio é palavra mágica para conjugar a eternidade. Eu havia aprendido o contrário, que rio é palavra para conjugar tempo. Pelo menos foi assim que ouvi de Heráclito, o filósofo: "tudo flui, nada permanece, tudo é rio..."</div><div>Mas lendo as Escrituras Sagradas percebi que certo estava o João: "a eternidade mora no fundo das águas, no fundo do tempo".</div><div>Quando Deus quis fazer artes mágicas com Jonas, jogou-o no mar, onde um peixe o aguardava de boca aberta, e por três dias ficou na fundura das águas, como feto na barriga da mãe, até que se transformasse em profeta. O que não é muito diferente das metamorfoses que fazem um poeta - portanto confirmado pela Cecília Meireles e pelo T.S Eliot que afirmam que, para fazer poesia, é preciso ter olhos de peixe. Não é por acaso, portanto, que o ritual mágico para transformação do velho em criança, a que se dá o nome de "batismo", siga a metáfora do afogamento e do nascimento: o adulto é mergulhado, de corpo inteiro, nas águas de um rio: o velho que mergulha morre; a criatura que sai das águas é menino.</div><div>Não é por acaso, portanto, que o peixe seja, a um tempo, símbolo poético e símbolo profético: é que ele nada nas funduras do tempo, onde a eternidade gera os seus milagres."</div><div></div><div>(Trecho extraído de: SOBRE O TEMPO E A ETERNAIDADE, RUBEM ALVES)</div>Vivian Caroline Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/08802906364915346020noreply@blogger.com2